sábado, 17 de maio de 2014

Meu Umbigo - por Sergio Baiano

Olá telespectadores, leitores e seguidores do blog do Grupo Trilho! Estou aqui para contar a história da minha vida! Ou pelo menos a parte dela que entra em intersecção com o processo do espetáculo Umbigo. Durante o processo eu usei muito a desculpa “eu não sou ator” quando eu queria que não me exigissem muito de algum exercício, jogo ou improviso que me era proposto e que eu sentia dificuldade. Por uma questão de coerência e unidade, vou dar a mesma desculpa aqui dizendo que não sou escritor. Resolvi então que não me ateria muito a forma da maneira que vou contar, sem me preocupar com um fio condutor ou com os temas se encadeando e coisa e tal. Não por escolha estética mas por falta de técnica e tempo mesmo. Pode ser que fique um pouco confuso, mas creio que o leitor sincero e interessado há de compreender o âmago daquilo que quero transmitir.

Inicialmente a ideia de estar em cena me trazia um certo receio como músico, entretanto eu confiava que com o tempo isto iria se tornar mais natural e eu ficaria menos inseguro, e a perspectiva de ficar menos inseguro me animava. Confesso que minhas dificuldades eram enormes nas dinâmicas e jogos de improviso. Era difícil me mexer, me expor. Mas é muito bom trabalhar com o corpo. Músicos deviam tentar mais isso. Lembro com certa nostalgia das manhãs de ensaio em 2013 ainda no Ferrinho. Iniciavam lentas e preguiçosas, mas quando terminavam eu saia renovado e energizado para continuar o dia.

As vivências dos ensaios do processo de criação deste espetáculo, dialogaram constantemente com processos particulares meus de autoconhecimento que ocorriam paralelamente. A vida para mim é uma espécie de laboratório em que eu posso observar as coisas que me acontecem e a forma como eu reajo a elas, e usar estas observações para compreender melhor a mim e ao universo, e os ensaios eram como uma espécie de laboratório intensivo de vida, pois sempre havia coisas para analisar e observar de mim mesmo.



Desde o início do processo foi estabelecido que como os músicos estariam em cena, teriam que participar também dos encontros e treinamentos com os atores, para ser exercitado a questão de presença cênica, energia do corpo e essas coisas aí que eles fazem. Esta participação seria necessária também para que a gente fosse mais do que só colaboradores que iriam fazer a música depois de o espetáculo já pronto. A experiência de estar participando dos jogos, aquecimentos e improvisos com os atores foi algo que teve um grande valor no meu desenvolvimento pessoal. Estar em grupo sempre é um grande exercício, e estar se expondo e trabalhando com a energia corporal foi algo que certamente contribuiu muito para o meu desenvolvimento pessoal neste período.

Tenho uma certa prática com processos criativos devido a minha graduação em composição em que passei os quatro anos exercitando-o e observando-o, trabalhando diariamente em composições e apresentando o progresso do trabalho semanalmente nas aulas de composição. Entretanto, no  processo do espetáculo Umbigo tive uma experiência nova em dois aspectos: por ser um processo coletivo, e por se estender ao longo de mais de um ano.
Primeira vez que participo de um processo criativo tão longo. Foram aproximadamente 17 meses, desde as primeiras reuniões até a estréia que será neste fim de semana. Um processo criativo é sempre uma aventura por dentro de si mesmo, e este foi especialmente assim por se tratar de um processo coletivo.
 
Pude observar ao longo dos ensaios os meus diversos estados de energia física e psíquica e esta observação foi muito rica para esta minha pesquisa de estar vivo. Alguns dias sentia meu corpo cheio de calor e energia, de forma que não conseguia ficar parado e tinha que ficar pulando ou mexendo o corpo o tempo todo, enquanto em outras ocasiões me movimentar era um grande sacrifício. Da mesma forma enquanto algumas vezes expressões, falas e reações brotavam de forma mais instantânea, outras vezes parecia que havia uma grande barreira invisível entre mim e o mundo  fora dos limites do que pode ser considerado eu.


Acho que a princípio era isso que eu tinha pra falar da minha experiência neste processo, e para concluir quero dizer que não sou escritor, portanto me dou ao direito de não fazer uma conclusão decente.

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