Olá telespectadores, leitores e seguidores do blog do Grupo
Trilho! Estou aqui para contar a história da minha vida! Ou pelo menos a parte
dela que entra em intersecção com o processo do espetáculo Umbigo. Durante o
processo eu usei muito a desculpa “eu não sou ator” quando eu queria que não me
exigissem muito de algum exercício, jogo ou improviso que me era proposto e que
eu sentia dificuldade. Por uma questão de coerência e unidade, vou dar a mesma
desculpa aqui dizendo que não sou escritor. Resolvi então que não me ateria
muito a forma da maneira que vou contar, sem me preocupar com um fio condutor
ou com os temas se encadeando e coisa e tal. Não por escolha estética mas por
falta de técnica e tempo mesmo. Pode ser que fique um pouco confuso, mas creio
que o leitor sincero e interessado há de compreender o âmago daquilo que quero
transmitir.
Inicialmente a ideia de estar em cena me trazia um certo
receio como músico, entretanto eu confiava que com o tempo isto iria se tornar
mais natural e eu ficaria menos inseguro, e a perspectiva de ficar menos
inseguro me animava. Confesso que minhas dificuldades eram enormes nas
dinâmicas e jogos de improviso. Era difícil me mexer, me expor. Mas é muito bom
trabalhar com o corpo. Músicos deviam tentar mais isso. Lembro com certa
nostalgia das manhãs de ensaio em 2013 ainda no Ferrinho. Iniciavam lentas e
preguiçosas, mas quando terminavam eu saia renovado e energizado para continuar
o dia.
As vivências dos ensaios do processo de criação deste
espetáculo, dialogaram constantemente com processos particulares meus de
autoconhecimento que ocorriam paralelamente. A vida para mim é uma espécie de
laboratório em que eu posso observar as coisas que me acontecem e a forma como
eu reajo a elas, e usar estas observações para compreender melhor a mim e ao
universo, e os ensaios eram como uma espécie de laboratório intensivo de vida,
pois sempre havia coisas para analisar e observar de mim mesmo.
Desde o início do processo foi estabelecido que como os
músicos estariam em cena, teriam que participar também dos encontros e
treinamentos com os atores, para ser exercitado a questão de presença cênica,
energia do corpo e essas coisas aí que eles fazem. Esta participação seria
necessária também para que a gente fosse mais do que só colaboradores que iriam
fazer a música depois de o espetáculo já pronto. A experiência de estar
participando dos jogos, aquecimentos e improvisos com os atores foi algo que
teve um grande valor no meu desenvolvimento pessoal. Estar em grupo sempre é um
grande exercício, e estar se expondo e trabalhando com a energia corporal foi
algo que certamente contribuiu muito para o meu desenvolvimento pessoal neste
período.
Tenho uma certa prática com processos criativos devido a
minha graduação em composição em que passei os quatro anos exercitando-o e
observando-o, trabalhando diariamente em composições e apresentando o progresso
do trabalho semanalmente nas aulas de composição. Entretanto, no processo do espetáculo Umbigo tive uma
experiência nova em dois aspectos: por ser um processo coletivo, e por se
estender ao longo de mais de um ano.
Primeira vez que participo de um processo criativo tão
longo. Foram aproximadamente 17 meses, desde as primeiras reuniões até a
estréia que será neste fim de semana. Um processo criativo é sempre uma
aventura por dentro de si mesmo, e este foi especialmente assim por se tratar
de um processo coletivo.
Pude observar ao longo dos ensaios os meus diversos estados
de energia física e psíquica e esta observação foi muito rica para esta minha
pesquisa de estar vivo. Alguns dias sentia meu corpo cheio de calor e energia,
de forma que não conseguia ficar parado e tinha que ficar pulando ou mexendo o
corpo o tempo todo, enquanto em outras ocasiões me movimentar era um grande
sacrifício. Da mesma forma enquanto algumas vezes expressões, falas e reações
brotavam de forma mais instantânea, outras vezes parecia que havia uma grande barreira invisível entre mim e o mundo
fora dos limites do que pode ser considerado eu.
Acho que a princípio era isso que eu tinha pra falar da
minha experiência neste processo, e para concluir quero dizer que não sou
escritor, portanto me dou ao direito de não fazer uma conclusão decente.
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