sábado, 11 de dezembro de 2010

RBS no Osso

Era o auge de três dias de ensinamentos, rituais, medicina Kaingaing.

O tradicional batizado no qual o chá frio é bebido e derramado sobre a cabeça, também serve de cura àqueles que já passaram pelo bautismo. Pajés do interior do estado estavam no Morro do Osso, localizado na zona sul de Porto Alegre, para o evento organizado pela comunidade Kaingaing que lá vive desde 2004, composta por 31 famílias.

Eu fui de ônibus Serraria que me deixou na boca do morro. A vista, o guaíba, o sábado, deslumbrantes. Até os índios o caminho é de casarões e silêncio desértico, a subida convida a perder-se e achar alguém para certificar-me de que a memória não anda tão mal é tarefa difícil. Quem existe ali são os porteiros, pintores, seguranças. Por sorte, abordei uma moradora saindo de casa, arredia abriu a janela do carro e me deu indicações. Chegando à comunidade, o cenário é outro. O conforto? Do lado de fora, entre as árvores, à sombra, as casas de madeira apenas necessárias. Muita gente, música e a alguma fumaça das ervas em queima para preparação do chá.

Não estava lá para ser batizada, curada ou passar por qualquer manifestação estranha a meu ceticismo e sim para aprender sobre ervas e rever os amigos Kaingaingues sempre ativos culturalmente e lutadores cônscios de seu direito à moradia e da garantia do respeito à sua ancestralidade.

Na fila do chá, uma repórter. Televisiva, ela anunciava em alto e bom som que seria batizada, o cacique alertou: - Será curada. Biólogos, antropólogos, amigos, registrávamos aquele encontro de pajés com nossos mega pixels. O estranhamento já estava quase brechtiano sob a literal narração de cena protagonizada pela repórter quando o “câmera”que a acompanhava escrachou de vez e bateu boca com Luis, que fotografava ao lado. A disputa? Por espaço para captar as imagens.

A discussão não teria cabimento ali, em meio aos pajés, em meio a tudo. O cacique interveio prontamente e exerceu a liderança que lhe foi incumbida, pela qual responde diariamente e, durante a qual foi covardemente baleado pela Brigada Militar em operação da SMIC em pleno Brique da Redenção. E o cacique Valdomiro disse à equipe da empresa de comunicação mais poderosa do estado que ali não era local de intolerância e prepotência, que todos ali tinham direito ao registro, que nenhum convidado seria desrespeitado e mais, que dali saíssem imediatamente e deixassem as imagens como prova cabal de quem tumultuou a cerimônia.

Candidatos de A a Z que se aliam ao diabo para ter mais dois minutinhos de tv durante as campanhas eleitorais, pasmem, o cacique pôs a RBS morro abaixo. E tudo continuou como previsto, os pajés batizando, quem desejava devidamente batizado, a música testemunhando, as câmeras registrando, eu anotando. O cacique pedindo desculpas pelo comportamento, dos outros. Meu vegetarianismo não ficou para o churrasco. O ceticismo? Nunca em relação ao ser humano, em meio a debates infindáveis e abstratos sobre democracia e direito na sociedade de classes pós-moderna, o cacique provou que sua ancestralidade entende de democracia, direito e dignidade. Que democracia é qualquer coisa menos o aparente multiculturalismo apresentado pelo monopolismo.

A disputa por espaço? Disso o Maurício, a Ione, o Jayme, a Marlene entendem muito bem, afinal, seus “empreendimentos” de RBS a MAIOJAMA desejam, de um jeito ou de outro, estar no morro para captar as melhores imagens.
Ana Campo
Colaboradora do Grupo Trilho

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Estação Ferrinho 47 anos - Vídeos

Para quem achou que a semana tinha acabado, estava certo! Mas ela gerou outras coisas, como estes dois vídeos, que mostram a pré-produção do evento:








Em breve mais vídeos documentais da Estação Ferrinho 47 anos.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Diálogos na Esquina

Em 2009 o déficit de policiais militares no estado chegava a dois mil. Este ano, houve notório reforço do quadro da Brigada, a maneira pela qual nos damos conta deste aumento é, infelizmente, na verdadeira faxina social que vem ocorrendo na cidade de Porto Alegre. Na Cidade Baixa, bairro no qual resido, intervenho, consumo, passeio, os moradores em situação de rua foram vaporizados, restando alguns poucos, aqueles que, por desgraça, ganham visibilidade que os “blinda” de abordagens policiais como é o caso do senhor pixado enquanto dormia na Rua Lobo da Costa recentemente.
Mas não somente a parcela passiva da miséria é alvo deste operativo velado, a produção cultural popular, sua reflexão e crítica precisa ser removida da programação da cidade que, em 2014, deverá estar em condições cinematográficas para transmissão do maior espetáculo da terra produzido pelo novo Vaticano dos tempos neoliberais: a FIFA .     
O campo deve ser preparado para o jogo lúdico da confraternização dos povos e, como os milhares de aparelhos de TV de plasma que serão vendidos para contemplar tal exibição dispõem de alta definição na imagem, é melhor garantir que tudo esteja no seu devido lugar. O futebol? Equivocam-se os que dizem que ele aliena o povo, ele foi alienado do povo e transformado em fábrica de lucro. O futebol será mero tema da Copa. Na África do Sul, a “Santa Inquisição” da Federação instaurou suas leis e premissas para o evento, resultando em alguns indivíduos condenados a uma década de prisão pelo roubo de uma carteira, moças promotoras de marca de cerveja concorrente da cerveja anunciante oficial, detidas pela policia...
A reconfiguração do que aparece no cenário urbano é vital para o espetáculo de 2014, e esta vai desde a ampliação meramente arquitetônica do HPS - que carece de setenta médicos e mais de uma centena de técnicos - ignorando completamente as necessidades dos moradores da zona sul de Porto Alegre urgentes de um hospital na região, até o enquadramento da cultura produzida na cidade, mais precisamente quando esta não se presta à exaltação folclórica do que convém ao espetáculo.  O recado é claro, esta cidade será contada pelas empresas patrocinadoras da Copa, portanto, parafraseando Chico, artista: Cálice!
Ao meio-dia desta quarta-feira, a Rede Brasileira de Teatro de Rua /RS, realizou a abertura de uma tarde de espetáculos de rua em manifestação contra as recentes repressões protagonizadas pela polícia contra artistas no centro da cidade. Os Diálogos na Esquina inaugurados hoje terão prosseguimento com o objetivo de denunciar estas ações abusivas e retomar o caráter democrático da Esquina, este espaço público será reivindicado de maneira orgânica fazendo jus à sua história e não simplesmente romantizado como “museu”  de luta por democracia para turista ver.
 Ah, o argumento... O argumento alegado para tais ações é sempre defender o direito de ir e vir da população, o qual os artistas cerceariam. Ora, se há algo de significante que cerceie o direito de ir e vir de grande parte da população desta cidade é o valor astronômico do transporte urbano, um dos mais caros da América Latina (!), que impossibilita inclusive, o acesso à cultura, popular, folclórica, crítica ou acrítica.   

Ana Campo
Colaboradora do Grupo Trilho

domingo, 14 de novembro de 2010

Bom tom?


Fazer teatro, trabalhar com arte no Brasil não é tarefa fácil. O tal do mercado cultural, a indústria, é para poucos e são muitos os que fazem arte na garra, na teimosia. Com certeza a situação vem melhorando, há anos atrás era muito pior, menos verba, censura, ditadura, enfim, eram maiores os percalços para os artistas. Isso, porém, não diminui o mérito dos artistas de hoje, principalmente daqueles que não se entregam ao simples comércio de arte.
Falo isso porque aconteceram recentemente dois fatos em Porto Alegre que me fazem refletir sobre a dificuldade imposta aos artistas, e ainda por cima aproxima-se perigosamente com a época da ditadura. Primeiro, no dia 16 de outubro o grupo de teatro Levanta Favela foi interrompido pela polícia em plena esquina democrática, e agora, 12 de novembro, na Feira do Livro, a poeta e escritora Telma Scherer também é interrompida e detida pela Brigada Militar enquanto fazia uma performance.

Quais são os reais motivos para esses atos de repressão por parte da Brigada? Distúrbio público? Não ter autorização para se apresentar? Incitar perigosamente o povo? Atrapalhar a livre circulação e principalmente o livre comércio dos transeuntes e lojistas? Hum... Ainda me parece pouco... Talvez não fosse do gosto estético da nossa polícia? Quem sabe se convidássemos alguns tenentes, capitães e soldados e talvez alguns cabos da nossa Brigada para fazer parte do júri dos prêmios de arte de nossa cidade, quem sabe assim descobrimos qual é o seu gosto estético e então já não mais correríamos o risco de nos equivocar e de sermos presos por aí por um simples mal entendido estético-artístico. Seria de bom tom nosso, convidar também alguns vereadores, deputados, prefeitos, governadores, lobistas, empresários de grandes corporações, para fazer parte desse júri. Assim não teria mais equívoco, não mesmo.

Aproveito para deixar um convite a todos:

A Rede Brasileira de Teatro de Rua (RS) convoca a todos para participar do Diálogo na Esquina. Ato em repúdio ao desrespeito com os artistas, à autorização para apresentações e cobrança para utilização de espaços públicos, que pertencem a todos nós!
Dia 17 de Novembro, 4ª feira, à partir do meio-dia.
NA ESQUINA DEMOCRÁTICA, CENTRO.


Seria de bom tom que os nossos futuros jurados fossem presenciar esse acontecimento.



Fábio Castilhos
   Integrante do Grupo Trilho


Ps: Links para mais informações sobre os dois acontecidos: Levanta e Telma.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Inventando um lugar em que a tigresa possa mais que o leão...

Domingo é dia de praça lotada no bairro Humaitá, e em qualquer lugar, todo artista tem que ir aonde o povo está. A história da tigresa monólogo da Cia. Destemperados com atuação de Anderson Balhero, teria a missão de fechar a programação na última noite do aniversário  de 47 anos do Ferrinho. Para garantir o sucesso da divulgação soltamos a tigresa na praça e lá se foram os últimos panfletinhos.
Enquanto esperávamos o público e Anderson passava o texto, a conversa era descontraída e as caras de dever cumprido, neste caso nem dever, mas um objetivo, atingido. Mabel, a primeira a chegar para o espetáculo nos pegou tranqüil@s, comendo torta do dia anterior.

nov 2010.3 136

Abstraindo o calor intenso o público chegou e entrou na história. Com nove meses de pesquisa e algumas apresentações na bagagem, Anderson contou a história de um soldado chinês que, ferido na Manchúria, é salvo graças ao convívio com uma tigresa e seu filhotinho desencadeando uma nova lógica de ação durante o conflito que vivenciava. Divertiu as crianças com seu domínio corporal e uma energia inesgotável. É um ator perpetuum mobile. Para os adultos, o conteúdo subversivo do texto de Dario Fo é que toca.  Convidad@s a rugir como tigrinhos os expectadores formaram um coro e tanto, mas quem roubou a cena foi Gi, que não negou o sol em leão e soltou seu lado felino.
Para não perder o bom costume, bate-papo e alguns canapés remanescentes do coquetel de sábado para fazer a reflexão da peça. Em meio às intervenções um tigrinho surge da plateia e vai em direção a Anderson, senta a seu lado como quem o acompanhou por toda a viagem, sedento e amigo.    

nov 2010.3 344
     
Parabéns Ferrinho! Parabéns Grupo Trilho! Obrigada aos amigos.

Ana Campo
Colaboradora do Grupo Trilho

domingo, 7 de novembro de 2010

O Pão do Povo - Estação Ferrinho 47 anos

- Um táxi, com ar condicionado, por favor.

A galera do Trilho acostumada ao Fusca do Fabinho e às “pernas para que-te-quero” desta vez esnobou, é que era dia de coquetel e as pastinhas para os canapés ou canamão, como diz a Carmelina , nem o delicado mousse de maracujá poderiam saber do calor e suas bactérias.

No cardápio de atividades nada menos que um belo debate sobre teatro (teatro popular, não o culinário), cultura descentralizada, Ferrinho. Para isso estavam à mesa, como convidados, aquele que orientou o trabalho de Carol sobre teatro popular que resultou na peça “A Decisão”, o ator professor da UERGS, Carlos Mödinger, o coordenador de artes cênicas da Secretaria de Cultura de Porto Alegre Breno Ketzer um dos maiores entusiastas das atividades que desenvolvemos no local e Raul Carrion, deputado estadual reconhecido no âmbito cultural por empenhar-se nas causas justas e populares, lutador antigo pelo Ferrinho.

mesa

Mas não haveria mesa completa sem Seu Hélio, aquele que, aonde vai, leva o Ferrinho junto. Estava em casa, à vontade e emocionado para deleitar a todos com a história do lugar. Daniel conduziu a conversa de maneira equilibrada e aberta como é de seu feitio e já na primeira rodada, tivemos o privilégio de ouvir sobre políticas culturais, conceitos sobre o popular, o erudito , o entretenimento, suas repercussões sociais. Não é necessário comentar que o debate rendeu - e deixou todo mundo com fome...

coquetel

Os corredores do Ferrinho lotados denunciavam: ali estavam os quitutes. E todos deliciaram-se com comidinhas bem saudáveis e, em ode a Baco, o vinho. Seu Hélio e Dona Margarete abraçados ilustram melhor que qualquer comentário, o parabéns cantado a dezenas de vozes em homenagem aos 47 da entidade.

abraço


Depois de comer tudo e mais um pouco, teríamos continuado se não fôssemos pegos com os garfinhos na mão pelo batuque do grupo UPA, coral especialista em música popular brasileira, a torta do Glaudinei estava imperdível mas a batucada também. Leva a torta junto e vamos cair no samba!

coral 1

As quase vinte vozes dos músicos foram o auge de um dia festivo, politizado e bem servido. Como se fosse pouco o pessoal ainda ficou por ali para dar uma ensaiada, batucamos por mais duas horas e terminamos o dia cheios, de felicidade, esperança e fé na luta e no teatro (o popular, não o culinário...) 

Ana Campo
Colaboradora do Grupo Trilho

sábado, 6 de novembro de 2010

Trilho(s) e Flor(es) - Estação Ferrinho 47 anos

Ontem o calorão deu uma tregua, choveu e a temperatura ficou mais amena. As flores que plantamos na entrada do Ferrinho agradeceram. Fixaram-se na terra e desabrocharam lindos botões. Nós, do Trilho, também nos fixamos e cada vez criamos raízes naquele local. A Estação Ferrinho floresce e com certeza vai gerar frutos. Apresentamos A Decisão e de organizadores do evento passamos a artistas. Não vou falar da peça, até porque de dentro não vou conseguir me distanciar o suficiente para isso, vou falar sobre o que a noite de ontem gerou.

nov 2010.1 038

Foi muito bom poder contar com os amigos e parceiros que estavam lá cumprindo o papel que nos coube na quarta, na quinta e que ainda vamos exercer hoje e amanhã: o de organizar o evento. Gil, Juliano, Elincon, Judith, Glaudinei, Antonio, Paola, Osmar, Paula, estavam lá dispostos, fazendo de tudo para nos ajudar. Muito obrigado pela colaboração. Ah, se eu esqueci de alguém, por favor me perdoe.
De entro, tivemos algumas estréias, Gabriel Gorski e Sérgio Baiano na música e Cristiano Morais substituindo o Gil na cena. Estavam tão à vontade que pareciam já estar conosco desde o início do processo. Gorski e Baiano que antes de estarem na cena estiveram na platéia, se inseriram com muita propriedade. As composições foram renovadas e ganharam outras cores, outros tons. 

nov 2010.1 029


Cris, que também faz parte da oficina do Oi Nóis que acontece no Ferrinho e que também havia assistido à peça, protagonizou uma das fotos mais interessantes da Decisão, quase profética. Na foto o policial (Caroline Falero) está batendo em um operário (Gil Dos Santos) e Cris ao fundo, assistindo, coloca a mão na nuca sofrendo junto com o operário. Pois Cris veio a substituir justamente o Gil e sofrer como o operário. 

decisão 27

Foi muito bom ter um público atento, participativo. Lembro de ver alguns balançando a cabeça e marcando com os pés o ritmo das músicas e ainda outras que já haviam visto a peça, cantando junto conosco. Mas ontem tivemos alguém na platéia que nunca tinha visto o espetáculo: Gil Dos Santos. Ele que esteve desde o início do processo, que tem muito dele nesse trabalho, teve por motivos alheios, de sair e foi substituído. Seus olhos brilhavam e eram extremamente generosos, emocionado nos emocionou. Cantou (deve ter até dito alguns textos baixinho!) e não entrou em cena por pouco, como me confidenciou no final da noite.

nov 2010.1 058

Muito obrigado a todos que estavam lá ontem a noite, aos que estiveram nos outros dias e aos que estarão hoje e amanhã, nessa grande comemoração que é a ESTAÇÃO FERRINHO 47 ANOS!                  


Fábio Castilhos
Integrante do Grupo Trilho

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Dia 2: O pássaro, o cativeiro, a liberdade - Estação Ferrinho 47 anos

Quem não gosta de passarinho, ainda não viu “João Jiló”.
novembro 2010 019
Sob os olhos atentos de mais de uma centena de crianças e alguns adultos retrospectivos, o trio de atuadores do grupo TIA (Teatro Ideia Ação) mostrou que tira de letra o público para o qual se dirige - se isto ainda é possível!!! Esse tirar de letra dispõe de um vasto vocabulário no qual podemos citar a participação ativa (e não decorativa) do público como conceito chave.  A exposição carregada de humor de uma situação corriqueira e naturalizada – a captura de um pássaro- é dramatizada para remeter-nos ao atual drama universal, a devastação ambiental.    
O domínio de cena é admirável em Mariana, atriz do grupo que despertou atenção das crianças já às portas do Ferrinho.  Marcelo se transforma de anarquista metido a piadista, em um João rústico e amargo, amargo que nem jiló. Gil - que não é o Gilberto mas manda bem - fica a cargo da viola e uma certa melancolia.

novembro 2010 033
Sem medo das linguinhas afiadas e como é tradição em nossas trupes, a apresentação foi seguida de bate- papo cuja pauta predominante foi a barriga de balão do João, do João Jiló. 

novembro 2010 059
Depois de despedir-nos dos alunos da Escola Estadual Lions Club, com muito bolo de chocolate e já com saudade da tropinha, nos preparamos para receber também da cidade de Canoas, o grupo de capoeira Angola Brasil e a intervenção cênica “O menino chorou” de Valéria Benitez.  Esta conhecida cantiga de capoeira ilustra o ato que Valéria expôs sacudindo em meio à poeira, ao som de atabaque, berimbau, caxixi e pandeiros, evocando junto a esta genuína arte brasileira o sofrimento e resistência, comandantes de bordo dos navios traficantes de negros cativos e escravizados de diversos países africanos até o Brasil. Como não poderia deixar de ser, após a emocionante apresentação, a roda de capoeira formou-se novamente e o ciclo se fechou com um samba de roda pegado.

novembro 2010 072
Os capoeiristas suaram o abadá, mas o público não ficou por menos e também não teve descanso, a noite adentrou com o herdeiro Burgó e seu capataz discursando das altezas do Ferrinho ainda a céu aberto.  Depois da passagem inebriante do jovem capitalista, o distanciamento cai como uma lâmina quando o “Diretor de figurantes” nos ordena a entrada já anunciando a influência da dramaturgia Brechtiana e da característica bem brasileira: a situação trágica mostrada de maneira cômica. “O Mercado do Gozo” nos seduz com a atraente estética de uma boemia europeizada, na qual perambula o herdeiro da poderosa fábrica, insaciável em seu vazio existencial. Mas sua fábrica e o bordel no qual passa o tempo não são meros panos de fundo de seu drama individual e sim a própria história a ser contada. 

novembro 2010 084

O ano de 1917 é quase sinônimo de Revolução Russa, mas esta não foi uma só e podemos citar claramente duas etapas, a de fevereiro -de caráter burguês- e a de outubro – proletária, mas o ano não foi apenas determinante para o resto do mundo, ele aconteceu em vários lugares do globo, inclusive em Porto Alegre sede de greve geral influenciada por dirigentes anarquistas e pela primeira etapa da revolução russa, mas principalmente pelas péssimas condições de trabalho, a falta de liberdade organizacional, os baixos salários.  

novembro 2010 100
Hoje é a vez do Grupo Trilho, mas sou suspeita para escrever...
Beijo grande!
Ana Campo
Colaboradora do Grupo Trilho

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

E se? - Estação Ferrinho 47 anos

Pintado, decorado e com os corredores fervorosos o Ferrinho começou ontem a comemorar seus 47 anos fazendo jus à sua causa, a cultura popular.

Oriunda de oficinas de teatro popular, formada em teatro pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e antiga hóspede do Ferrinho, Josiane Acosta nos contou estórias carregadas do ludismo que caracterizam as culturas ancestrais de povos ao redor do mundo, neste caso a fértil produção popular de diversos povos africanos. E se Africa? estreou ontem ali, no lugar onde durante todo o ano, pessoas dos bairros mais distantes da capital e seus arredores, nos juntamos aos ativistas do Humaitá, movidos por um mesmo motor: E se evitássemos que o prédio fosse derrubado para que o terreno sirva de estacionamento a caminhões? E se promovêssemos discussões que propiciem acesso de todos os moradores à participação popular? E se apresentássemos peças de teatro para que as escolas pudessem aproveitar-se de maneira saudável da educação que esta arte pode fornecer?

Josiane já estava no camarim quando desci para fotografar os alunos da Escola Vereador Antonio Giúdice, os quais haviam utilizado transporte cedido por consórcio que requisitamos de maneira gratuita (sempre coerentes com nossa Estética da Chinelagem!). Surpresa minha quando, através da lente, me deparo com Marcelo, amigo de Josi de longa data. Marcelo não sabia, muito menos eu, ele era o motorista que fez o trajeto da escola até o Ferrinho. De quebra viu a apresentação de sua grande amiga. Quando a causa é nobre o universo parece conspirar a favor, essa fé acompanha @s amig@s do Ferrinho e seu Hélio nosso dirigente vitalício.

100_0606

As mais de oitenta pessoas que se acomodaram para ver a contação ouviram atentamente cada uma das histórias cujas ilustrações eram perpassadas por alegrias, tristezas, fé na vida, resignação. Talvez a mais comovente, o consenso, tenha sido a narrativa de Okipija, moça de beleza estonteante - assim como a atriz que a representou- que a ser cortejada por todos os homens que a viam, encantou-se por peixes que travestidos em três homens pediram a seu deus a graça de concebê-la. Ao descobrir a sina, a música ecoou e ela aprofundou-se nas águas: O mar que esconde cada passo... Mas o fim desta história agradou, Okipija no mar viveu e conta-se que lá, os peixes têm características parecidas com as dos homens.

Finalizado o espetáculo a conversa que duraria dez minutos, estendeu-se por quase meia hora, com ampla participação e questionamentos dos mais interessantes e curiosos.

Podemos dizer que começamos mais do que bem a agenda que até domingo promete emocionar e debater a cultura, a arte, o ser humano.



Ana Campo

Colaboradora do Grupo Trilho

domingo, 31 de outubro de 2010

Estação Ferrinho 47 anos - Programação 07/11

No último dia da Estação vamos ter o espetáculo História da Tigresa, às 20 horas.

História da Tigresa - Foto Vilmar Carvalho
Foto: Vilmar Carvalho

“A História da Tigresa” Conta a homérica história de um soldado chinês que por motivos alheios se separa de sua tropa. Entregue a sua própria sorte, ele se vê obrigado a salvar o único fio de vida que lhe resta. Enfrenta tempestades, avalanches de água, escala montanhas, corre por descampados enormes, sobe encostas, até que encontra uma gruta onde pode se abrigar. Entretanto, ali também é morada de uma tigresa e seus filhotes. Surpreendentemente ele não vira comida de tigres. Ao invés disso começa uma relação nada comum entre um homem e um animal. 

Texto de Dario Fo. Espetáculo da Cia. Destemperados, atuação de Anderson Balhero.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Estação Ferrinho 47 anos - Programação 06/11

No sábado, dia 06/11, às 18 horas, vamos ter o bate-papo "ESTACÃO DESCENTRALIZADA: Teatro Popular (?)”, com o deputado estadual Raul Carrion, o professor de teatro da UERGS Carlos Mödinger, o coordenador de artes cênicas da Secretaria Municipal de Cultura, Breno Ketzer e os artistas interessados na temática. Após o bate-papo, está programado um coquetel ao som da MPB do Grupo UPA. 

Raul Carrion é deputado estadual e Líder do PCdoB na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, historiador graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pós-graduado pela FAPA (Faculdades Porto-Alegrenses). Raul é um grande apoiador da causa do Ferrinho.

Carlos Mödinger possui Mestrado em Letras pelo PPG – Letras da PUC-RS e Licenciatura em Educação Artística – Habilitação Artes Cênicas pela UFRGS. É professor na Fundação Municipal de Artes de Montenegro, atuando também no curso de Graduação em Teatro: Licenciatura, convênio com a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - UERGS. Como ator, atuou nas peças “Os Enganadores da Morte” e “A megera domada”, entre outras.

Breno Ketzer Saul é formado em teatro pela Ufrgs onde também concluiu o curso de especialização em Economia da Cultura. Participou como ator de várias montagens teatrais atuando também como iluminador e criador de trilhas sonoras. Funcionário da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, hoje ocupa o cargo de Coordenador de Artes Cênicas da Secretaria Municipal da Cultura.

UPA!

O Grupo UPA! Vocal-Percussivo nasceu em 2009 da continuidade do trabalho realizado para o Recital de Meio de Curso do regente, no Instituto de Artes da UFRGS. Composto majoritariamente por estudantes e profissionais da música, o UPA! tem influências de grupos como Expresso 25, Barbatuques, Clube da Esquina, Suíte Montevideo, Stomp e Céu da Boca, que compõem a elite dos grandes conjuntos musicais.
É um núcleo musical independente com ênfase na música vocal.  Seu espetáculo reúne interpretações de músicos renomados tais como Milton Nascimento, Caetano Veloso e Eduardo Mateo.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Estação Ferrinho 47 anos - Programação 05/11



Sexta 05/11, terceiro dia da Estação, é a nossa vez! O Grupo Trilho de Teatro Popular vai apresentar A Decisão. 

A Decisão - Foto Ana Mendes

A Decisão é um espetáculo de teatro dialético, dinâmico e com musicalidade envolvente, que mostra o retorno a Moscou de quatro Agitadores exigindo uma sentença ao Coro do Partido. Durante o espetáculo são narradas as situações ocorridas na revolução da China que levam a execução do Jovem Camarada, mostrando que os objetivos e interesses dele são os mesmos do partido, porém suas práticas não.
           Os pontos de vista são vários e o espetáculo nos coloca conflitos e paradoxos que são gerados por essa relação entre indivíduo e coletivo. O público, disposto em arena total, é convidado a refletir segundo a sua visão.

domingo, 24 de outubro de 2010

Estação Ferrinho 47 anos - Programação 04/11


O segundo dia da Estação será intenso, com peça para as crianças a tarde e outras duas apresentações a noite. A tarde a Cia. TIA (Teatro, Ideia, Ação), de Canoas, apresenta a peça João Jiló. O grupo é formado por atores que também fazem parte da trajetória do Ferrinho através da oficina do Ói Nóis. Às 20 horas teremos a performance de Valéria Benitez, O menino chorou, que mistura dança, teatro e capoeira. Para finalizar o dia, o pessoal da oficina do Ói Nóis apresenta O Mercado do Gozo.

João Jiló - 15 horas - Cia. TIA

JOAOGILOJoão Jiló era um homem malcriado e teimoso, certo dia resolve sair para caçar passarinhos, até que encontra um diferente dos outros e decide caçá-lo. Mas o que João Jiló não esperava era achar um passarinho encantado que viesse ensinar-lhe uma lição. 
Com interatividade e diversão as crianças refletem sobre o amor à natureza e respeito ao próximo. 
Com Marcelo Militão, Mariana Abreu e Gildo Santos.


O menino chorou - 20 horas - Valéria Benitez

Performance que associa a cultura da capoeira integrada a encenação e a dança. Durante a realização da roda a protagonista encara o público e o faz refletir sobre o nascimento de um negro guerreiro retirado de sua mãe ao nascer até a história da capoeira.
Fundamentado no contexto escravocrata brasileiro e no surgimento da manifestação Popular. Retrata o preconceito as mulheres nesse período histórico que jamais deverá ser esquecido por nós.
  

 O Mercado do Gozo - 20h30min. - Oficina Humaitá

mercadoNa condição de figurantes de um filme e da história como um todo, os espectadores acompanham a difícil construção de uma figura de herdeiro burguês, que aprende, a golpes de drogas, experimentos eróticos e bons exemplos de outros empreendedores a tomar conta de seus interesses. Texto de Sérgio Carvalho da Cia do Latão. Com Elincoln Lucas, Adriane Lucas, Cristiano Morais, Eugênio Barboza, Glaudinei Veber, Jacques Borges, Juliano Ismael, Leila Carvalho, Paola Mallmann.
O espetáculo faz parte do projeto Teatro como Instrumento de Discussão Social desenvolvido pelo Ói Nóis Aqui Traveiz desde 2003 no Ferrinho.
 

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Estação Ferrinho 47 anos - Programação 03/11


A ESTAÇÃO FERRINHO 47 ANOS propõe um parada reflexiva de 03 a 07 de novembro em comemoração aos 47 anos do Grêmio Esportivo e Cultural Ferrinho, representando  mais uma vez a importância de sua existência.
Inaugurado em 1963, o Ferrinho fica a cada dia mais cheio de vida. Começou Ferrovia  e resistindo ao tempo, hoje representa tanto a memória como o futuro da comunidade do Humaitá, além de abrir seu horizonte a novos parceiros por toda Porto Alegre. A manutenção das atividades do Ferrinho possibilita fazer arte e fruir arte, além de proporcionar diálogo e construção, com toda a rica e histórica bagagem do trabalhador ferroviário.
Na Estação contaremos com a presença de grupos e companhias que ao longo da trajetória do  Ferrinho ajudaram, com sua atuação cultural, a concretizar essa história de lutas e conquistas.

A abertura será com o espetáculo E se Africa? De Josiane Acosta, atriz Licenciada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que além de utilizar o espaço para a construção desse trabalho foi uma das integrantes do Grupo Trilho, participando de oficinas do Ói Nóis Aqui Traveiz no espaço do Ferrinho nos anos de 2005 e 2006. 

SINOPSE


josi“E se ÀFRICA?” Navegando em África de nossos ancestrais, remamos com contos que retratam questões como solidariedade, respeito e amor. Contos que encantam, ligados ao universo das águas. Seja rio, mar ou chuva, buscam-se pequenas gotas da afro-brasilidade através de narrativas de orixás. De forma sensível, usando recursos vocais e expressivos, o público é convidado a ver, ouvir e pensar em quantas Áfricas podemos nos banhar. Os contos são interpretados pela atriz Josiane Acosta, licenciada em TEATRO pela UFRGS, sob direção e composição musical de Toni Edson licenciado no mesmo curso pela UDESC e Mestre em Literatura brasileira pela UFSC. Um trabalho composto de mosaico cultural experimentado em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul e na Bahia. 



Dia 03/11 às 20 horas no Grêmio Esportivo e Cultural Ferrinho, Dona Teodora 1250, Bairro Humaitá.

Quem quiser mais informações sobre a Josiane Acosta, é só acessar o blog dela aqui.
 

sábado, 16 de outubro de 2010

Semana do Ferrinho - Parte III

Produzindo a semana de comemorações do aniversário do Ferrinho, nós sentimos a necessidade de renovar nossa identidade visual. Apesar de gostarmos, o logo anterior tinha alguns problemas técnicos, por isso lançamos o novo logo do Grupo Trilho (aí em cima, no cabeçalho!), criado pelo artista visual Marcel Trindade.

A programação da semana já está fechada e vai ocorrer de 03 a 07 de novembro com os espetáculos "E se Africa?", "A História da Tigresa", "Árvore em fogo", "Mercado do Gozo", "O menino chorou" e "João Giló" de grupos convidados, além de "A Decisão" espetáculo do Grupo Trilho e também o Grupo Upa, música popular brasileira.

Em breve, mais informações sobre cada espetáculo e sobre a Semana, que já tem nome (!):

ESTAÇÃO FERRINHO 47 ANOS 

sábado, 2 de outubro de 2010

Golpes!

Há algo de podre no Reino da América Latina! Duas tentativas de golpes, uma no Equador, outra em Porto Alegre. No primeiro o governo, no segundo a liberdade de expressão. E a grande mídia dando um jeitinho de esconder.

No Equador depois de uma manifestação dos policiais, o Presidente Rafael Correa foi agredido e levado para o hospital. Para acompanhar melhor o que está acontecendo acesse:
MST 
Granma
Adital
Brasil de Fato
Carta Maior
Rebelion

Em Porto Alegre o jornal "JÁ" está ameaçado de ir a falência por um processo com claras intenções políticas. No dia 8 de outubro, às 19 horas, no Teatro Dante Barone da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, vai acontecer o Ato pelo direito à informação.
Mais informações deste caso acesse:
Conversa Afiada
Observatorio da Imprensa
Jornal Já

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Semana do Ferrinho - Parte II

No último domingo começamos a pintar o Ferrinho. Aos poucos tudo vai se modificando. Passamos uma primeira mão de tinta no corredor de entrada. Não está pronto ainda, mas já deu uma grande diferença. Um antes e depois (que é durante ainda, pois não terminamos) para ter uma ideia:

antes e depois1

antes e depois2

E também algumas fotos dos artistas/pintores/atores/trabalhadores:

setembro 2010 615

setembro 2010 618

setembro 2010 617

setembro 2010 630

setembro 2010 641

setembro 2010 645

setembro 2010 670

setembro 2010 649

Em breve mais um capítulo desta enorme epopéia.

domingo, 19 de setembro de 2010

Semana do Ferrinho - Parte I

Foi dada a largada. Dia 31 de outubro é aniversário do Grêmio Esportivo e Cultural Ferrinho, sede do Grupo Trilho. Estamos preparando uma grande comemoração com espetáculos, encontros, debates, tudo isso com data prevista para 03 a 07 de novembro.

Fora toda a produção necessária para o evento, estamos organizando o espaço. Começamos a limpar, arrumar e pintar o Ferrinho. Trabalho, muito trabalho! Vamos informar aqui o passo-a-passo de toda organização que culminará na semana de comemorações do aniversário do Ferrinho.


setembro 2010 500



setembro 2010 503

Para quem não conhece o Ferrinho vale uma informação: é um prédio grande e antigo e com uma manutenção precária, já que o Seu Hélio (presidente do Ferrinho) não tem condições, nem financeiras nem físicas, de cuidar de todo o espaço sozinho.

setembro 2010 507

setembro 2010 524

Não é fácil ser artista!

setembro 2010 531

setembro 2010 535

Com muitos pés e muitas mãos se faz uma revolução... ou pelo menos um grande faxinão!

setembro 2010 550

setembro 2010 559

setembro 2010 565

setembro 2010 580

setembro 2010 573

setembro 2010 578

setembro 2010 575

Em breve mais um capítulo desta epopéia!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

História da Tigresa

Neste final de semana estréia o espetáculo História da Tigresa, texto de Dario Fo, atuação de Anderson Balhero e direção de Arlete Cunha. Vale a pena conferir!


flyer

03, 04 e 05 de setembro de 2010
Sexta, sábado e domingo às 20 horas
Teatro do Sesc Centro
Rua Alberto Bins 665, Centro, Porto Alegre

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Quem ousa dizer: jamais!

Amo e odeio o teatro... Ele é sincero e isso é generoso e cruel. Ele me exige atitude e crítica. Atitude nem sempre é fácil de tomar, aprender no erro também não... É preciso a humildade que às vezes me falta. Para descobrir, que é com o outro que me encontro. É perceber cumplicidade nos trilhos tomados, se reconhecer nas dificuldades dos seus. Ser ação e reação na busca por outra forma de viver, de visualizar, de agir. Por isso ele é estonteante, por isso a luta, mesmo perdendo tudo parece um espetáculo, que atraí... Gera curiosidade e o princípio da dúvida.

Estranhar o habitual e fazer habitual o estranho... Quem ousa dizer jamais? Se a opressão permanece a quem se deve? A quem se deve se for esmagada?

Saí preguiça!!!! Que o que está em jogo me é valioso... O certo não está certo, assim como está não pode ficar! Cá estamos nós de novo!! Quantas eleições mais?

Saí preguiça!!! Por que não é apenas votando que vou garantir o que me é valioso e sim me encontrando nos olhos do outro e com ele dividindo a responsabilidade de aprender a estar de acordo... Isso é política, isso nos é valioso e isso nos tiram a cada segundo.






Caroline Falero

domingo, 22 de agosto de 2010

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir

Fato ocorrido em julho deste ano.
 
 
Hoje, 4:30 da manhã me dirigi ao Posto de Saúde Modelo da capital para chegar na fila em tempo de conseguir lugar que me garantisse adquirir ficha para  atendimento com clínico geral a fim de tratar uma infecção urinária.  Havia lá gente desde 02:30 h, sem novidades... Boa parte das pessoas que moramos nesta renomada capital já assimilamos mecanismos dos mais variados para driblar a escuridão da madrugada, o gelo de julho (não é que doença gosta do frio gaúcho?)  e alguma contingência  qualquer e, nessa rotina a solidariedade derivada, quem mora perto busca café para todos, quem traz jornal volta sem ele,  quem fica guarda lugar de quem sai mas volta, quem tem horas diz, quem sabe informa,  quem não ajuda não atrapalha.  Mas já havia dado no jornal e aconteceu, choveu. Uma forte chuva desabou o céu às 05:20 em Porto Alegre.
 
Na foto do celular umas pessoinhas molhadas, de longe, nada perto do que se vê por aí - crianças horas a fio em filas de hospitais, velhos terminais sem vaga para internação, alguns médicos-deuses com o “destino” das pessoas nas mãos porque ALGUN$ meteram as mãos nos recursos, de tudo. Mas dando um zoom, lá estavam : Angela Maiato, Libero Maiato, Neli Campidelli, Margarida De Jesus, Elisabete Borba, Jorge Lopes Goulart, Júlio Plínio Teixeira, Ariovaldo Medeiros, Marta Quintana Mandatare, Danilo Batista Vieira, Ramão Padilha, Eloina Flores,  Julio Cabral, Paulo Diehl, Maria Idalina, Rosalina  da Silva, Osmar Teixeira, Williams Monteiro, Ivone dos Santos, Nair da Silva, Antonio Oliveira, Lígia Castro, Renildo Moura, Neli Cabral, Thales Prado, Zilca Gollo, Beatriz Limberguer, Lisandro Suslia, Luis Alves, Neusa R,. Santos, Ana Campo.
 
Aquelas tinham 70, uma 77, outro um marca-passo, eu não poderia molhar-me, ninguém poderia molhar-se.  Mas o guarda responsável pela segurança do posto negou-se a acolher-nos no local alegando orientação superior. -Tudo bem amigo, entendemos, entre em contato com seu superior e haja rápido, pois os velhos estão ensopando. Foi negada a abertura do saguão, desta vez não entendemos.
Adentrar madrugadas para garantir um serviço público e universal já é no mínimo ultrajante quando sabemos que o dinheiro de todos e de cada um é desviado, transviado e qualquer coisa que se possa imaginar - que se tolere esta situação como única possibilidade para conseguir assistência não naturaliza ou dignifica este estado de coisas – ser deixad@s  na chuva intensa e ter o acesso negado a um estabelecimento público esgotou a paciência de tod@s, só a paciência, pois continuamos molhados até 07:20 hora em que se abriram as portas.
 
Registrei queixa junto à administração do posto e à Prefeitura de Porto Alegre, que deveria propiciar estrutura e orientação 
aos postos evitando a gladiação entre usuári@s e funcionári@s, temos direito a não padecer cada vez que seja necessária utilização do serviço, qualquer argumento terrorista que minimize o fato extrapolando a bárbara realidade da saúde pública na cidade, no Estado e no país, não atenua o senso de dignidade e respeito que, sabemos, merecemos em tudo.


Ana Campo

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Manifesto

Reunião após reunião. Pensa, discute, analisa, demanda, encaminha, discute! Vamos criar um manifesto? Ué, por quê não?

E aí está, depois de escrever, reescrever, discutir, rediscutir, finalmente é lançado oficialmente o Manifesto do Grupo Trilho de Teatro Popular!

"multiplica, pois tudo é relação ampliada, borbulhada, discutida, analisada,
desestabilizada, redimensionada no encontro tão necessário entre
espectadores e atores,

pela arte transgressora e necessária,


como crianças brincantes, transgredindo a sociedade por meio da diversão e

da inocência"

Quer ler mais? Acessa o link abaixo do cabeçalho ou clique aqui.

domingo, 25 de julho de 2010

XVI Encontro Nacional de Geógrafos

Na próxima semana estará acontecendo o XVI Encontro Nacional de Geógrafos, e dentro da programação do encontro haverá uma programação cultural com teatro, música, circo e outras atividades.



O Grupo Trilho vai apresentar na segunda (26/07) uma versão curta de meia hora, do espetáculo "Ela - a vespa libertada". A apresentação será ás 18 horas no Auditório da Faced.

domingo, 11 de julho de 2010

"A Decisão" por Jorge Arias

  • Jorge Arias é pesquisador teatral e crítico do Jornal La República de Montevidéu.
  • Texto extraído da publicação do Festival de Teatro Popular - Jogos de Aprendizagem.
  • O Grupo Trilho agradece à Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz e à Secretaria Municipal da Cultura pelo convite para participar desse extraordinário Festival.


"A Decisão" é uma das peças "didáticas" de Brecht, e uma das mais difíceis de engolir. É mais fácil fazer uma palestra sobre o teatro dialético de Brecht que encená-lo. A transição ao socialismo não é sem lágrimas. Um companheiro, um comunista das primeiras horas, o Jovem Camarada, deve morrer. Sua conduta conteve um erro; e ele aceita o castigo necessário. Em "A Decisão" o espectador está nas antípodas do teatro comum, do teatro, como dizia Brecht, "culinário". Minuto por minuto, devemos nos decidir. Acompanhará o espectador uma decisão, que é a morte? E com que direito foi tomada? O que faria num caso parecido? "A Decisão" não é uma justificação, antes dos fatos, de Stalin e dos processos de Moscou? Do começo ao fim Brecht, fiel ao seu espírito de controvérsia, pôs intranquilidade no palco. As cadeiras já não são cômodas; e o Grupo Trilho de Teatro Popular põe o público no palco, longe das poltronas, em meio a ação. Deliberadamente, as diferentes posições são trocadas: todos os atores são, sucessivamente, o Jovem Camarada e seus juízes. Uma das peças mais provocativas, mais indigeríveis deste Festival de Teatro Popular. Ela fica nas vísceras; vai fazer parte de nosso corpo. Não lhe interessa nossa alma.
Cremos que, entre todas as apresentações do Festival, “A Decisão” é o trecho que, com mais força e paixão, impõe o pensamento, discussão das ideologias, a luta de conceitos. É impossível não sentir, nem sequer fingir indiferença ante ela. É o triunfo da ideia de teatro que teve Brecht.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Festival de Teatro Popular no Ferrinho


O Grupo Cultural Yuyachkani, do Peru, apresentou nesta terça (06/07) a peça "Rosa Cuchillo" no espaço do Grupo Trilho, o Grêmio Esportivo e Cultural Ferrinho, dentro da programação do Festival de Teatro Popular.

O espaço estava lotado e a apresentação foi ótima. Logo após rolou um bate-papo muito bacana com a atriz Ana Correa (foto).

Hoje o Trilho apresenta "A decisão" no Teatro de Câmara Túlio Piva, as 20h.
O Festival ocorre até o dia 11/07, todas as atividades tem entrada franca.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...