- Jorge Arias é pesquisador teatral e crítico do Jornal La República de Montevidéu.
- Texto extraído da publicação do Festival de Teatro Popular - Jogos de Aprendizagem.
- O Grupo Trilho agradece à Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz e à Secretaria Municipal da Cultura pelo convite para participar desse extraordinário Festival.
"A Decisão" é uma das peças "didáticas" de Brecht, e uma das mais difíceis de engolir. É mais fácil fazer uma palestra sobre o teatro dialético de Brecht que encená-lo. A transição ao socialismo não é sem lágrimas. Um companheiro, um comunista das primeiras horas, o Jovem Camarada, deve morrer. Sua conduta conteve um erro; e ele aceita o castigo necessário. Em "A Decisão" o espectador está nas antípodas do teatro comum, do teatro, como dizia Brecht, "culinário". Minuto por minuto, devemos nos decidir. Acompanhará o espectador uma decisão, que é a morte? E com que direito foi tomada? O que faria num caso parecido? "A Decisão" não é uma justificação, antes dos fatos, de Stalin e dos processos de Moscou? Do começo ao fim Brecht, fiel ao seu espírito de controvérsia, pôs intranquilidade no palco. As cadeiras já não são cômodas; e o Grupo Trilho de Teatro Popular põe o público no palco, longe das poltronas, em meio a ação. Deliberadamente, as diferentes posições são trocadas: todos os atores são, sucessivamente, o Jovem Camarada e seus juízes. Uma das peças mais provocativas, mais indigeríveis deste Festival de Teatro Popular. Ela fica nas vísceras; vai fazer parte de nosso corpo. Não lhe interessa nossa alma.
Cremos que, entre todas as apresentações do Festival, “A Decisão” é o trecho que, com mais força e paixão, impõe o pensamento, discussão das ideologias, a luta de conceitos. É impossível não sentir, nem sequer fingir indiferença ante ela. É o triunfo da ideia de teatro que teve Brecht.
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