Do dia 20 a 23 de maio aconteceu na Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, por meio do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas e do Departamento
de Arte Dramática o 14º Simpósio da International Brecht Society, sob o tema “O
espectador criativo: colisão e diálogo”. Três integrantes do Trilho tiveram a
oportunidade de acompanhar o simpósio. Segue abaixo o relato de Caroline
Falero, integrante do Trilho:
Simpósio Brecht
“O mais importante de tudo é aprender a estar de acordo
Muitos dizem sim, mas sem estar de acordo
Muitos não são consultados
E muitos estão de acordo com o erro
Por isso, o mais importante de tudo
é aprender a estar de acordo”.
(Bertolt Brecht. Aquele
que diz sim e Aquele que diz não.)
Inicio meu texto com esse fragmento da
peça didática de Bertolt Brecht por achar pertinente essa colocação, afinal era
um simpósio, um espaço de discussão, muito se diz que falar de Brecht sem
questioná-lo é traí-lo e várias foram as posições referente ao trabalho dessa
figura tão relevante para o teatro moderno e para o teatro do Grupo Trilho de
Teatro Popular. A peça didática também acabou sendo grande protagonista do
simpósio ao lado do teatro de Boal e a performance. Se tivesse que resumir em
uma palavra o evento não hesitaria em escolher CONTRADIÇÃO. Simpósio tão
recheado dela como a vida em que vivemos.
Dentre muitas passagens ao longo do
período de 20 a 23 de maio destaco o pulsante relato de Miguel Rubio Zapata,
sobre o trabalho do grupo Yuyachkani, a conferência generosa de Ingrid Koudella
e o relato de Hans-Thies Lehmann agregado ao contraponto do comentário de
Sergio de Carvalho questionando-o pela insistência em abafar o cunho político e
marxista do trabalho de Bertolt, adorei o conflito, eis a oportunidade de
aprendizado, não se chegou a consenso algum (que bom), seguiram discutindo na
entrada do salão (em inglês), onde eu aguardava para tirar a foto com o diretor
da Cia do Latão.
A fala de Camila, imprecisa e nervosa
deixou a desejar sobre essa pesquisa que parecia tão interessante, ao concluir
compartilhou com os presentes o fato de ter sido tirada do espetáculo Patrão
Cordial por estar com um nenê que, naturalmente se manifestava. Uma menina
presente elaborou e nos leu um escrito referente a isso, usando a manifestação
da criança como metáfora para o encorajamento de um posicionamento desse
público de teatro acomodado. Ironia ou não, estava eu como público a assistir o
espetáculo... Em resposta ao escrito e sim, propondo o exercício do aprender a
estar de acordo coloquei minha versão de espectadora incomodada com a
intervenção da criança, deixei claro que nada tenho contra crianças (é claro!)
e que muito menos apoio qualquer truculência em relação à forma como a mãe foi
convidada a se retirar, pelo contrário, coloquei que ouvindo a contextualização
dela, de mãe solteira e há quase um ano sem ir ao teatro me parecia essencial
ela estar ali com a criança. Sigo falando que muitas das regras sociais existem
para que se possa contemplar a todos, afinal aquele não é um espetáculo para
crianças, não é? O pai da menina ficou cuidando da neta para que a mãe explanasse
sobre sua pesquisa, a criança ao ver a mãe chorava e tornava impossível a
permanência dos dois na sala, vô e neta saiam. O relato, obviamente não desceu
bem. O conflitão tinha sido instaurado, eu, Daniel havia me jogado na jaula dos
leões.
No segundo dia de simpósio aconteceu
no intervalo para o café, uma performance de uma menina que lia seu texto de
maneira exaltada aos que ali estavam e seguiram tomando seu cafezinho com
bolachas, o texto era bem interessante, todos tinham cópias, ela seguia, tirava
a roupa, ao concluir, a inflamação foi ao ápice ao contar a todos que ao
conversar com os alunos da UFRGS, ficara sabendo que os mesmos não tinha
permissão para utilizar o Salão de Atos, que este era apenas para cerimônias e
eventos importantes. Ela questiona: e para que falar de Brecht então?
Concluo por fim, que uma posição
contrária foi geradora de tamanha e maior inquietação do que um texto (bem
escrito, repito) gritado e roupas tiradas. Que bom! A menina da performance
ficou tão incomodada que seguiu na última conferência (antes de iniciá-la,
obviamente) a reclamar de mim.
O público e o povo precisam gritar,
sim!!!! Contra o mau serviço de educação, saúde, transporte, contra a
corrupção, pastores homofóbicos e para todas as séries de injustiças sociais que
povoam nesse sistema capitalista decadente e sanguessuga! Esse mesmo sistema
que aliena e nos faz pensar que uma criança se manifestando em um espaço
estruturado para adultos é um ato de coragem. Para mim, naquele momento, a
coragem estava no exercício de saber escutar, pois um grupo relevante estava
convidando o espectador atento a se posicionar sobre esse mesmo sistema que
todos deveríamos combater. E gritar e não ouvir é tão contraditório quanto à
própria vida.
Carol, Brecht não é teoria, é praxis. Tu és Brecht, Brecht, Brecht, podes crer!
ResponderExcluirBeijo grande.
Ana Campo.