sexta-feira, 14 de outubro de 2011

"Quando eu crescer, não quero ser adulto" por Ana Campo


Só as mães de atrizes como Giovanna Zottis e Caroline Falero podem reviver passagens marcantes e emocionantes da infância de filhas já adultas ao vivo e a cores (como na tv, hd).

E lá estavam elas, olhos rasos d'água, no final de semana de estreia de "O Baú - Lembranças e Brincanças". O sábado era das crianças no Centro Municipal de Cultura, Arte e Lazer Lupicínio Rodrigues, e elas vieram com tudo. Entre pais e filhos mais de uma centena de pessoas.

Finalmente em cena, Dindim e Pimpolha, as meninas que num sótão - lugar não comum para nossas crianças ao mesmo tempo lugar comum para o teatro - se veem afastadas dos recursos tecnológios que garantem a diversão da maioria das crianças deste país: televisão, videogame, celular, computador. Essa "privação" trata-se, como fica claro para as crianças ao final da trama, de uma tentativa da mãe de Dindim de propor um divertimento mais subjetivo, inventivo e saudável à filha.

A espontaneidade infantil de Caroline Falero e os tipos hilários apresentados por Giovanna Zottis garantem não somente criatividade e inventividade às personagens como a toda a trama que, intencionalmente, sem excessivos recursos técnicos e grandiloquentes histórias, apresenta um espetáculo tocante, cômico e que atinge seu objetivo de comunicação com as crianças resultando também imperdível para adultos.

A peça, como todos os trabalhos produzidos pelo Grupo Trilho, acaba por ser uma metáfora de como diversão, sonho, verdade, emoção, reflexão, podem ser atingidos de maneira simples sem as ciladas de um teatro baseado no exagero de elementos cênicos, recursos midiáticos excessivos e, quase sempre, com prazos comerciais.

Ao longo de quatro dias de apresentações gratuitas, sendo que, dois dias foram dedicados ao público em geral e os outros dois a escolas ou ong's previamente agendadas, a reação do público variou sempre, mas nunca na expectativa interessada dirigida à peça que conta com sensível e gostosa trilha sonora de Sergio Baiano e iluminação funcional de Bruna Immich, aliás para as crianças a melhor iluminação parece ser mesmo a falta desta nos segundos iniciais da peça, vão ao delírio.

Se sábado era dia de estreia para o grupo, domingo era dia de estreia para Enzo - dois anos e meio - que, pela primeira vez, via uma peça de teatro. Foi durante uma das brincadeiras de Dindim e Pimpolha que, desde o público, ele derreteu a mim e aos pais: tô loco pra ir lá!
Se os pais que acompanham os filhos se divertem e sorriem praticamente todo o tempo, é quando Pimpolha reclama: "...os adultos ficam o dia inteiro trabalhando sem dar atenção às crianças e quando dão ficam bravos..." que as crianças se matam de rir dos pais, que desta vez, ficam sérios, ui, meus calos...

Na hora da música mais conhecida das crianças, Borboletinha, o coro é espontâneo, uníssono, meigo!

As campeãs de risos são, claro, as piadas que falam do pum que escapou, do chulé da princesa, rsrsrs. Os aspectos fisiológicos tão moralizados pela sociedade vigente acabam por ser objeto de descarga coletiva quando exorcizados, no caso dos adultos é o sexo, mas o chulé e o pum também fazem sucesso.

A orientação de Fábio Castilhos, numa perspectiva de direção participativa, deu objetivo à sequência das inúmeras narrativas, estados de ânimo e brincadeiras colocadas em cena durante 55 minutos.

Em apenas quatro dias de apresentação "O Baú" já coleciona ótimas críticas, inclusive do pessoal encarregado da faxina do teatro: vocês deixam tudo organizado, que bom trabalhar assim.

Para provar que somos crianças grandes e tão presos à tecnologia quanto as crianças que retratamos, após o espetáculo protagonizamos uma cena e tanto no café do teatro. Foto para cá e foto para lá, Laerte resolve enviar por bluetooh um dos registros para o celular de Giovanna, mas a foto não chega nunca, ao que vem alguém lá da outra mesa: são vocês em meu celular! O homem que havia aceitado a foto acreditando ser de seu irmão (também Laerte!) veio logo desfazer o engano.

Ver  e fazer "O Baú" é propôr um divertimento mais subjetivo, inventivo e saudável para crianças e crianças que viraram adultos.

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