Só
as mães de atrizes como Giovanna Zottis e Caroline Falero podem reviver
passagens marcantes e emocionantes da infância de filhas já adultas ao vivo e a
cores (como na tv, hd).
E lá estavam elas,
olhos rasos d'água, no final de semana de estreia de "O Baú - Lembranças e
Brincanças". O sábado era das crianças no Centro Municipal de Cultura,
Arte e Lazer Lupicínio Rodrigues, e elas vieram com tudo. Entre pais e filhos
mais de uma centena de pessoas.
Finalmente em
cena, Dindim e Pimpolha, as meninas que num sótão - lugar não comum para nossas
crianças ao mesmo tempo lugar comum para o teatro - se veem afastadas dos
recursos tecnológios que garantem a diversão da maioria das crianças deste
país: televisão, videogame, celular, computador. Essa "privação"
trata-se, como fica claro para as crianças ao final da trama, de uma tentativa
da mãe de Dindim de propor um divertimento mais subjetivo, inventivo e saudável
à filha.
A espontaneidade
infantil de Caroline Falero e os tipos hilários apresentados por Giovanna
Zottis garantem não somente criatividade e inventividade às personagens como a
toda a trama que, intencionalmente, sem excessivos recursos técnicos e
grandiloquentes histórias, apresenta um espetáculo tocante, cômico e que atinge
seu objetivo de comunicação com as crianças resultando também imperdível para
adultos.
A peça, como
todos os trabalhos produzidos pelo Grupo Trilho, acaba por ser uma metáfora de
como diversão, sonho, verdade, emoção, reflexão, podem ser atingidos de maneira
simples sem as ciladas de um teatro baseado no exagero de elementos cênicos,
recursos midiáticos excessivos e, quase sempre, com prazos comerciais.
Ao longo de quatro
dias de apresentações gratuitas, sendo que, dois dias foram dedicados ao
público em geral e os outros dois a escolas ou ong's previamente agendadas, a
reação do público variou sempre, mas nunca na expectativa interessada dirigida
à peça que conta com sensível e gostosa trilha sonora de Sergio Baiano e
iluminação funcional de Bruna Immich, aliás para as crianças a melhor
iluminação parece ser mesmo a falta desta nos segundos iniciais da peça, vão ao
delírio.
Se sábado era dia
de estreia para o grupo, domingo era dia de estreia para Enzo - dois anos e
meio - que, pela primeira vez, via uma peça de teatro. Foi durante uma das
brincadeiras de Dindim e Pimpolha que, desde o público, ele derreteu a mim e
aos pais: tô loco pra ir lá!
Se os pais que
acompanham os filhos se divertem e sorriem praticamente todo o tempo, é quando
Pimpolha reclama: "...os adultos ficam o dia inteiro trabalhando sem
dar atenção às crianças e quando dão ficam bravos..." que as crianças
se matam de rir dos pais, que desta vez, ficam sérios, ui, meus calos...
Na hora da música
mais conhecida das crianças, Borboletinha, o coro é espontâneo, uníssono,
meigo!
As campeãs de
risos são, claro, as piadas que falam do pum que escapou, do chulé da princesa,
rsrsrs. Os aspectos fisiológicos tão moralizados pela sociedade vigente acabam
por ser objeto de descarga coletiva quando exorcizados, no caso dos adultos é o
sexo, mas o chulé e o pum também fazem sucesso.
A orientação de
Fábio Castilhos, numa perspectiva de direção participativa, deu objetivo à
sequência das inúmeras narrativas, estados de ânimo e brincadeiras colocadas em
cena durante 55 minutos.
Em apenas quatro
dias de apresentação "O Baú" já coleciona ótimas críticas, inclusive
do pessoal encarregado da faxina do teatro: vocês deixam tudo organizado,
que bom trabalhar assim.
Para provar que
somos crianças grandes e tão presos à tecnologia quanto as crianças que
retratamos, após o espetáculo protagonizamos uma cena e tanto no café do
teatro. Foto para cá e foto para lá, Laerte resolve enviar por bluetooh um
dos registros para o celular de Giovanna, mas a foto não chega nunca, ao que
vem alguém lá da outra mesa: são vocês em meu celular! O homem que havia
aceitado a foto acreditando ser de seu irmão (também Laerte!) veio logo
desfazer o engano.
Ver e fazer
"O Baú" é propôr um
divertimento mais subjetivo, inventivo e saudável para crianças
e crianças que viraram adultos.
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