O
Trilho e as Crianças
Há quem diga que teatro infantil é uma arte menor.
Não para nós do Grupo Trilho. Criar algo para essas “pessoinhas responsáveis
pelo futuro” foi desafiador, pois nos colocamos na posição de formadores destes
que serão o futuro.
Todos no grupo somos professores de
teatro. Nossa formação na UERGS nos fez atentar nossos olhares para essa troca
valiosa que existe entre o fazer e o ensinar. A arte-educação nos possibilita
acessar o imaginário dessas crianças ao tomar contato com o que há de mais
legítimo na infância: o brincar (e a riqueza de informações que existem nessas
brincadeiras).
É justamente nesse contato que
identificamos as proximidades e as distâncias entre nossas infâncias e a
infância de hoje. E a frase “No meu tempo...” tem se enchido de sentido.
Além disso, desde sempre, o Grupo Trilho
conta com um público fiel de crianças freqüentadoras do Ferrinho. Lá no
Humaitá, quando saímos de porta em porta divulgando as apresentações no
Ferrinho são, na maioria das vezes, as crianças que convencem seus pais, tios,
vizinhos, a irem assistir e assim levá-las até lá.
Essa presença marcante das crianças
na platéia nos fez muitas vezes falar sobre a montagem de um espetáculo
infantil. Eis que o desejo tantas vezes alimentado ganha espaço nestes trilhos
do grupo, e o que era fumaça gerada pelos trabalhos anteriores se torna mais um
vagão deste trem.
Que
Baú é esse?
“As crianças de hoje são
televisivas, midiáticas. Para chamar-lhes a atenção no teatro é preciso show de
luzes, músicas animadas, muito movimento...” Algumas vezes ao sair de um
espetáculo infantil saíamos com a certeza do que não queríamos fazer. Ou pela
linguagem televisiva, ou pela forma como subestimam as crianças.
Foram, até agora, 8 meses dedicados
a uma pesquisa que nos exigiu arregalar os olhos para as crianças a nossa
volta, e fechar os olhos para mergulhar em busca das nossas crianças. Dessa
mistura nasceram as personagens Dindim e Pimpolha.
Partimos do desejo de falar de uma
infância utópica e ideal, e chegamos à necessidade de falar da infância de
hoje, televisionada. De uma forma crítica, mas sem negar a referência, abordamos
o assunto abrindo um espaço para a reflexão, afinal desde sempre existiram
crianças, e como eram elas antes de serem assim? Como eram os jogos antigos? De
que brincavam nossos pais e avós?
Documentários como “Criança: a alma
do negócio” e “A invenção da infância” mexeram com nossas cabeças.
Da certeza concreta do que não
queríamos, passamos a caminhar sobre uma dúvida movediça. Era sobre isso que
queríamos falar: um espetáculo para criança e sobre a criança. Mas “o que?” e
“como?” nos sacudiam constantemente. Em certo momento do processo chegamos a
nos perguntar: Será que isso funciona para criança? Será que não está faltando
“musica animada, show de luzes, e muito movimento”?
Chamamos amigos para assistir a
alguns ensaios, e esses ainda nos puseram mais dúvidas! Assim, seguimos
experimentando. E foi somente no ensaio aberto que fizemos para os alunos da
Carol, (mais sobre esse ensaio clique aqui) que soubemos que trilhávamos um
caminho possível.
E agora, a estréia se aproxima!
Tcham tcham tcham tcham! Contamos com os amigos e colegas (artistas e
professores) para essa nova empreitada do Trilho. Assistam, levem suas
crianças, e assim podemos trocar idéias e alimentar esse debate.
Giovanna Zottis
Integrante do Grupo Trilho
Nenhum comentário:
Postar um comentário